Blog do Jaime
quinta-feira, 19 de junho de 2014
O Ódio ao PT e o Ódio do PT
Elio Gaspari
Lula tem toda razão. Existe uma
campanha de ódio contra o PT. Esqueceu-se de dizer que existe também uma
campanha de ódio do PT. Uma expôs-se no insulto à doutora Dilma na
abertura da Copa.
Argumente-se que o grito foi
típico da descortesia dos estádios. O deputado Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força, influente aliado do candidato Aécio Neves,
endossou-o durante um evento do tucanato: “O povo mandou ela para o
lugar que tinha que mandar.”
Essa é a campanha de ódio contra
o PT. Ela pode ser identificada na generalização das acusações contra
seus quadros e, sobretudo, na desqualificação de seus eleitores. Nesse
ódio, pessoas chocadas pela proteção que Lula e o partido deram a
corruptos misturam-se a demófobos que não gostam de ver “gente
diferenciada” nos aeroportos ou matriculada nas universidades públicas
graças ao sistema de cotas.
O ódio do PT é outro, velho.
Lula diz que nunca se valeu de palavrões para desqualificar presidentes
da República. Falso. Numa conversa com jornalistas, chamou o então
presidente Itamar Franco de “filho da puta” e nunca pediu desculpas.
Reportagem da Folha de S.Paulo de maio de 1991
O ódio petista expôs-se em
situações como a hostilização ao ministro Joaquim Barbosa num bar de
Brasília e na proliferação de acusações contra o candidato Aécio Neves
na internet. Se a rede for usada como posto de observação, os dois ódios
equivalem-se, e pouco há a fazer.
Lula antevê uma campanha
eleitoral “violenta”, pois a elite “está conseguindo despertar o ódio de
classes”. Manipulação astuciosa, recicla o ódio do PT, transformando-o
no ódio ao PT.
Pode-se admitir que a elite não
gosta do PT, mas bem outra coisa é rotular como elite todo aquele que do
PT não gosta. Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que
entesourou US$ 23 milhões em bancos suíços, certamente pertence à elite e
no seu depoimento à CPI viu-se que gosta do PT e o PT gosta dele.
Essa estratégia já foi explicada
pelo marqueteiro João Santana. Trata-se de trabalhar com dois Lulas:
ora há o “fortão”, ora o “fraquinho”.
(Talvez as palavras originais tenham sido outras, mais próximas do dialeto dos estádios.)
Documento oficial: resposta do então Presidente Itamar Franco quando Lula o chamou de “filho da puta”
Quando Lula foi criticado porque
tomou um vinho Romanée-Conti de R$ 6 mil durante a campanha de 2002,
era a elite que negava ao “fraquinho” o acesso a um vinho do andar de
cima, pago por Duda Mendonça. Anos depois, quando viajou pelo mundo em
jatinhos de empreiteiras, era o “fortão” redesenhando a diplomacia
brasileira.
É uma mistificação, mas contra
ela só existe um remédio: vigiar a racionalidade da campanha, fugindo da
empulhação. Quem quiser odiar, que odeie, mas não fica bem a uma
presidente da República dizer que investiu em educação recursos que na
realidade destinaram-se a cobrir o custeio da máquina.
Também fica feio a um candidato
da oposição que até outro dia estava no ministério dizer que “não fico
mais em um governo comandado por um bocado de raposa que já roubou o que
tinha que roubar”. Não viu enquanto lá estava?
Talvez a racionalidade seja um
objetivo impossível. Afinal de contas, até hoje há americanos
convencidos de que o companheiro Barack Obama é um socialista que nasceu
no Quênia. Nesse caso, candidatos não devem ir a estádios.
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